Tem dias que tudo o que a gente precisa é de um abraço.
Outro dia busquei a Nara na escola e sugeri que fôssemos a um café passar um tempo juntas. Ela tem estado sensível ultimamente e com alguns episódios de “birra” em situações “aparentemente bobas”. (Coloco as aspas porque na perspectiva do adulto muitas vezes julgamos o motivo do choro ou revolta da criança como bobagem).
Quando minha filha está assim, percebo que está se sentindo desconectada, então quis passar um tempo especial com ela, um momento só nosso, acreditando que seria bom para nós duas.
Estava tudo indo bem, pedi um suco de laranja natural, que ela adora, e um croissant com geleia, que veio tostadinho e cortado ao meio. Ela parecia feliz e tranquila, mas na hora que eu fui passar a geleia no croissant, de repente ela esbravejou:
– Não! Você não podia ter quebrado a geleia!
– Ah, você queria ter passado a geleia você? (eu tinha feito a mesma coisa no dia anterior e ela não ligou) Puxa, agora já passei a faca na geleia… O que fazemos? (tento sempre focar em soluções)
Ela então empurrou a geleia com raiva e se virou de costas revoltada.
– Não quero mais a geleia, você quebrou a geleia! – ela gritou.
É bem possível que você já tenha passado por isso, portanto não preciso te descrever em detalhes o que aconteceu em seguida. Basicamente foi uma sequência de gritos e eu tentando manter a calma e deixar claro que essas coisas acontecem, que entendo que ela queria ter passado a geleia no pão sozinha, mas que eu não fiz por mal, não tinha como adivinhar e que (pelamordedeus) não podíamos gritar dentro de um café, que ela precisava se acalmar. Era dizer isso e ela gritava mais!
– Filha, respira! Estamos num café e as pessoas estão se incomodando.
– Não!
– Filha, se você continuar gritando, vamos ter que ir embora. Não se grita dentro de um café.
– Não, isso não vale!
Pedi a conta, ela ficou mais p da vida. Insisti que se quisesse poderíamos ficar, mas que precisava se acalmar.
– Quer um abraço? Eu te ajudo a se acalmar, meu amor.
– Não quero! (ela gritava, já no estágio de se jogar no chão, derrubar uma cadeira e tentar me morder – foi a 2a vez que ela fez isso, a 1a foi na semana anterior, ela tá com quase 4 anos)
– Filha, eu sei que você está nervosa, mas não pode me machucar nem jogar as coisas.
Entre os eternos minutos em que levei para pagar a conta, pedir o lanche pra viagem, colocar o casaco, comecei a ouvir comentários. Primeiro de dois senhores que se aproximaram e falaram para ela: “Como pode? uma menina se comportando assim…”. Me subiu o sangue, já sabia o que diriam na sequência, e cortei na hora: “Por favor, não se intrometam que vai ser pior! Ela já está muito nervosa.” Voltaram pros seus lugares e se calaram fazendo cara feia.
Tentei manter a calma. “Maíra, respira. São as crianças feridas deles. Se concentra na sua filha, respira.”
Em casa é mais fácil passar por esses momentos, ainda que sejam desafiadores. Geralmente aceito a realidade e espero o terremoto acabar antes de explicar como acho que poderíamos ter lidado melhor com a situação (você pode ler mais neste artigo com 7 Dicas Para Ajudar Seu Filho a Lidar com a Frustração).
Em público fica difícil respeitar o tempo da criança e lidar com a reprovação dos adultos presentes. A maioria dos adultos não foram acolhidos com a devida compreensão em suas infâncias, portanto o mais comum é que se indignem com uma mãe que “não repreende o filho de forma autoritária”. Se a criança está chorando, está “se comportando mal”. Sim, eu sei que é chato escutar uma pessoa gritando, mas a grande verdade é que esta criança está passando mal e essa mãe precisa de um olhar empático, não um olhar julgador.
Dois homens em uma mesa ao lado começaram a protestar:
– Ei, você precisa fazer alguma coisa!
– Eu estou tentando fazer a gente ir embora, mas ela precisa vestir o casaco (é inverno aqui na Espanha, sair sem abrigá-la não era uma opção, mas ela estava fugindo de mim).
– Isso não pode ficar assim!
– Eu estou fazendo o possível, sinto muito.
Consegui levar ela pra fora, praticamente empurrando ela e me sentindo um lixo. Me sentei na calçada, ela continuava gritando e estava naquele bloqueio: “quero ir pra casa, não quero ir. Quero o suco, não quero o suco”. O maldito suco estava sem tampa e não dava pra levar pro carro. Não conseguia sair de lá, já estava esgotada e entrando em desespero. Liguei pro meu marido chorando (ele trabalha a uma quadra deste café). Foi quando a Nara parou de chorar:
– Por que você está triste, mamãe?
– Por que não consigo fazer você se sentir melhor e não sei mais o que fazer. Eu acho que preciso de um abraço. Você me dá um abraço?
– Não! – e voltou a chorar.
Meu marido veio correndo e ela finalmente aceitou o colo do pai. Aos poucos se acalmou e voltamos para casa.
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Não sei se te decepcionei. Você achou que a história ia ter um desfecho bonito? Tem dias que as coisas saem do controle, que não conseguimos resolver a “birra” da criança, que temos que sair correndo do local público porque não dá para esperar ela recuperar a calma sem perder o controle.
Tem dias que tudo o que precisamos é de um abraço. Infelizmente ainda não sabemos acolher uma mãe que passa por um episódio de descontrole emocional dos filhos em público. É mais fácil condenar a mãe, achar que ela está dando mole ou que está sendo muito agressiva, achar que a criança é mal educada e que precisa ser repreendida. E que está agindo assim por culpa da mãe, que não sabe colocar limites.
Uma criança que se comporta mal não está se sentindo bem. O que disparou a raiva dela foi eu ter passado a geleia no pão, algo que eu faço sempre. Não era sobre a geleia, ela não está bem há semanas e tem dias que uma “bobagem” faz com que ela descarregue tudo o que estava entalado. Readaptação escolar depois das férias, discussões recentes entre eu e meu companheiro, desmame, ela tem vivido muitos desafios nas últimas semanas e tem se sentido insegura. Ela não está sabendo lidar com isso. E eu também estou tendo dificuldade, tanto de lidar com meus desafios pessoais atuais e como de ajudá-la a lidar com os dela.
E sim, tudo o que eu queria era um abraço. Só um abraço. Sem ter que dar nem escutar nenhuma explicação.
Você já se sentiu assim?
Você tem com quem falar quando se sente assim? Você tem com quem desabafar? Tem alguma amiga que te escuta sem te julgar? Te incentivo a buscar uma amiga assim ou um grupo de mães, com outras mulheres que podem ouvir suas angústias e inquietudes sem te criticar. Dessas que podem te oferecer um abraço, nem que seja virtual, sem precisar dizer muito mais além do: “te entendo, eu sei como é, tem dias que são foda.”
E que postura você tem quando vê uma mãe com um filho dando piti em público? Espero muito que você possa lhe oferecer apoio, nem que seja um olhar empático com a mensagem: “eu sei como é, eu sinto muito, eu já passei por isso”.
✍️: Maíra Soares (@cantomaternar), Mentora de Mães e Educadora Parental em Criação Consciente (escrito em 26 de janeiro de 2019, quando a Nara tinha 3 anos e 11 meses)
Deixo este vídeo da Brené Brown sobre empatia é muito inspirador.
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